segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Algumas amostras do outono no jardim.





Algumas plantas estão prestes acabar o seu ciclo, é o caso da Houttuynia cordata 'Chameleon' e do Muguet. Outas estão no apogeu da floração, como é o caso dos crisântemos e da ajânia. As árvores de folha caduca perdem as folhas. 

A cerejeira é o caso mais flagrante, mas a nectarina, a pereira e a macieira vão seguir-lhe o exemplo. O diospireiro ainda tem bastantes frutos (é de roer), mas as folhas já estão a cair. Também o medronheiro tem frutos (e flores!).
Os citrinos também estão carregados de frutos, estou a falar da tangerineira e do limoeiro.
O azevinho está fantástico, tem mais frutos do que folhas. O mesmo acontece com vários arbustos cotoneaster, embora alguns destes não percam as folhas.
Nas suculentas são sobretudo os Orostachys que se preparam para hibernarem.
Na horta ainda se colhem algumas alfaces, tomates, pimentas, alho-francês, nabiças, acelgas e beterrabas. Os pimenteiros, tomateiros e pepineiros não têm aguentado as agruras do tempo, com muita chuva e algum frio. 
As couve de penca vão crescendo, já com as folhas já bicadas pelos pardais. As galegas recuperam energias e têm que ser presas para que o vento não as tombe. Têm todas à volta de 2 metros de altura.
Alguns bolbos já estão bem despertos.

domingo, 12 de novembro de 2023

A minha aventura com as Pimentas

Jalapeno M em primeiro plano. Alecrim e alho no frasco.

O pessoal aqui em casa anda todo preocupado com as minhas conversas. Estão com receio que eu troque as suculentas pelas pimentas. Dizem que eu já não falo de outra coisa. Dou com eles a espreitarem para dentro das panelas com receio que eu nelas tenha depositado um “rebuçado”, como aqueles que eu muitas vezes ponho no meu prato.
As pimentas germinadas. Não foram transplantadas nesta altura.
Desde que tenho horta que gosto de ter um pé ou dois de pimentas (malaguetas), mais pelo aspeto decorativo do que pelo seu “apimentado” sabor. No entanto não desgosto de um ligeiro sabor picante e há anos que aprecio os frascos de guindillas em vinagre que o meu cunhado traz de Espanha, ou os pimentos picantes que o meu primo costuma ter na horta, lá na aldeia natal. Aqui em casa há sempre algumas malaguetas secas e um frasco com outras tantas, em azeite, que eu uso com ponderação, sempre que um prato me faz salivar, antes de me sentar à mesa.
Em agosto arranquei as cebolas e plantei as pimentas no mesmo local,
Este ano decidi ir um pouco mais além e comprei uma saqueta de sementes de Jalapeno M (Capsicum annuum). Com algumas variedades de frutos de pimenta que por aqui tinha, semeei 6 variedades distintas, no fim de março, quando o tempo ficou mais favorável. A sementeira foi feita em cuvetes plásticas, para depois proceder ao transplante.
Pimentas já bem desenvolvidas. Crescem de acordo com a variedade.
As coisas não correram muito bem, com as pequenas plântulas a serem comidas prematuramente. No final de abril as minhas plantas não tinham tamanho suficiente para serem transplantadas e comprei três pés de malaguetas, juntamente com algumas alfaces, uma vez que a horta já estava completa. Em maio ainda eu andava de volta das plantas e só no início de julho, quando arranquei as cebolas, fiquei com campo livre para transplantar as pimentas, já com algum desenvolvimento. 
Marmelada com pepitas de pimenta.
O meu conhecimento sobre as pimentas, que para mim sempre foram malaguetas, era muito pouco. Tudo o que eu sabia sobre as variedades por mim semeadas limitava-se à forma, ao tamanho e à cor do fruto. Como me tinham dado os frutos, nem sabia como eram as plantas. Foi nessa altura que aderi ao grupo Pimentas&Malaguetas e começou a minha preocupação. As minhas pimentas seriam Capsicum annuum, chinense ou frutescens? Será que teriam o pheno da espécie? Qual seria o seu teor de ardência na escala de Scoville? Seriam nucleares? O que é isso de placenta? F1? Quanto mais reviews eu via, mas insignificante me sentia e… comecei a ler sobre o assunto. Foi aqui que a família começou a ficar preocupada…
As sementes na marmelada à direita são meramente decorativas, não dão sabor.
Adiante, se não este texto nunca mais dá fruto… 😁
As plantas desenvolveram-se bem no solo e aos poucos fui plantando mais até esgotar todas as que nas ceram. Foi muito entusiasmante vê-las florir e dar frutos. Em vez das 7 variantes que deveria ter, 6 que semeei e mais uma que comprei, parecia-me que tinha mais de uma dúzia de frutos diferentes.
Vários frascos com pimentes, em azeite ou em vinagre.
Os primeiros a desenvolverem-se foram os Jalapeno. Sabia que podiam ser consumidos em verde e quando dei uma trinca num fiquei surpreendido. São carnudos, suculentos, estaladiços e, a maioria não tem ardência nenhuma, pelo que comecei a come-los na salada juntamente com outros vegetais da horta. Estava convencido que apenas ficariam picantes quando estivessem maduros, mas não aconteceu. Mesmo maduros o ardor é mínimo, ou nenhum.
Jalapenos maduros
Comecei a provar outras pimentas. Eu gosto mesmo das pimentas frescas, talvez seja porque, para mim o ardor não é um fator importante, mas sim o aroma, a suculência e a frescura.
Sei, agora, que as sementes não “picam”, que o fruto vai aumentando de ardor da ponta para o pedúnculo e que o “perigo” está na tal placenta, onde as sementes estão agarradas. Ora, como no amanho dos pimentos se retira a placenta (caroço) juntamente com as sementes, se fizermos o mesmo com as pimentas retiramos-lhe a sua identidade ou seja o seu ardor. As sementes devem ser retiradas, pois dão mau sabor, mas a placenta deve ficar.
Composição do frutos
A capsaicina é a principal substância responsável pela pungência ou ardor das pimentas. Internamente provoca a libertação de endorfinas, que combatem a dor e promovem a sensação de bem-estar. Assim, após a dor vem o prazer e não é surpreendente dizer-se que as pimentas provocam um certo vício. Quando a ardência é em demasia não se deve beber água porque a capsaicina não é solúvel em água, mas sim leite. A capsaicina é solúvel em álcool e em gordura, daí o usar-se azeite nas misturas. Para lavar as mãos também é mais eficiente óleo ou álcool e depois lavar com sabonete e água.
Bolivian Rainbow depois de maduras
Outra coisa que me intrigava era a designação de pimentas decorativas. O facto de serem decorativas não lhe retira nenhum valor como condimento, apenas lhe confere uma certidão de beleza, que faz com que estas pimentas também sejam cultivadas em vaso, muitas vezes apenas pela sua beleza e não pela sua utilidade. Está neste grupo a Bolivian Rainbow cujos frutos nascem roxos, passam por creme, amarelo, laranja, até chegarem a vermelho, quando maduros. Pode ser decorativa mas tem muita ardência, quando comparada com outras que não são decorativas.
A produção a sério só começou no final de agosto, mas prolongou-se por todo o setembro, outubro e as plantas ainda estão cheias de frutos em novembro.
Que utilidade a dar aos frutos? Só eu é que gosto de picante aqui em casa, assim é fácil - como é que eu gosto do picante? Como sempre gostei, diluído numas gotinhas de azeite. Não correu muito bem um frasco que enchi, no ano passado. Fermentou e ficou com um sabor desagradável. Voltei a usar o mesmo procedimento, mas, em vez de usar unicamente azeite, também coloquei algum vinagre, que impede a fermentação. Há quem defenda a utilização de óleo em vez de azeite, uma vez que o óleo não ganha ranço e o azeite sim, mas isso é se lhe derem tempo para ficar rançoso. Eu acho que acaba entes de ficar rançoso. 
Também há muita gente a colocar as pimentas em bebidas alcoólicas, quanto mais alcoólicas melhor. Serve tudo, bagaço, whisky, rum, vodka… não gosto. Até o cheiro me incomoda, quando estou a comer. O que é que eu coloco juntamente com as pimentas? Tenho experimentado várias coisas: alho, loureiro, alecrim, sal e mesmo algumas ervas aromáticas secas como tomilho, orégãos, poejos etc. Antes de passar uma semana já estou a provar e normalmente já está agradável, como já disse não gosto de muito picante. Tiro a maioria das sementes, mas não é uma coisa que me incomode. 
Jalapeno com chouriço e queijo 
Os Jalapeno são muito versáteis. Como não têm ardor (estes meus), não os tenho colocado em azeite. Além de os comer em fresco, na salada, já os assei, fiz picles e experimentei recheá-los com chouriço e queijo e levá-los ao forno. Ficaram sempre saborosíssimos!
Jalapeno com chouriço e queijo 
Andaram aqui por casa alguns quilogramas de marmelos sem sabermos o que fazer com eles, assim surgiu a ideia da marmelada picante. Foi feita a marmelada “normal” há qual foram juntadas algumas pimentas inteiras. Antes de passar a marmelada com a varinha mágica foram retiradas e partidas em pedaços, manualmente e posteriormente acrescentadas à marmelada, já pronta, antes de ser colocada nos recipientes. A ideia é que ficassem pedaços de pimenta visíveis dentro da marmelada. Depois de feita, fez-se a prova, o sabor a picante era mínimo. Acrescentei alguns pedaços de pimenta por cima. Como a marmelada vai ser congelada, não há problemas com a conservação. 
Como nos Santos me deram mais alguns quilos de marmelos, estou a pensar fazer nova tentativa, duplicando a quantidade de pimentas.
Jalapeno verde, são muito carnudos
A forma mais simples para guardar as pimentas é enfiá-las numa linha e pendurá-las para que sequem. Também tenho algumas assim.
Ainda gostaria de experimentar a triturar as pimentas juntamente com alguns ingredientes e fazer massa de malagueta, mas com os frutos frescos. Há quem defenda que alguns sabores se intensificam quando as pimentas secam mas eu ainda não cheguei a esse ponto. As pimentas podem ser desidratadas no forno ou num desidratador de alimentos.
Várias pimentas
Com toda esta atenção que dei (e a ainda continuo a dar) às pimentas, o meu entusiasmo aumentou e já estou a preparar o próximo ano. Conheço melhor o cultivo e o culto das pimentas que é enorme em todo o mundo. Das centenas de espécies que se conhecem há em Portugal um grande número de fãs e a possibilidade de comprar sementes das mais “vulgares” às mais exóticas. Há frutos de todas as formas e cores sendo as mais apreciadas as mais “feias”. Têm frutos que já revolvem o estômago só de olhar para eles. As plantas com frutos mais ardentes produzem menos sementes e a germinação também é mais difícil.
Várias pimentas
Tal como na jardinagem há sempre a possibilidade da cedência e da troca. Tenho amigos mais aficionados que eu que já fazem cultivo forçado, cruzamentos e lidam com dezenas e dezenas de espécies. Já tenho um conjunto muito interessante de sementes e penso no próximo ano ter uma dúzia de variedades, mais multicolores, quem sabe até frutos variegados, que é uma das últimas tendências. Isto, sempre sem esquecer o potencial ornamental que estas plantas têm.
A preparar as pimentas para 2024