segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Jardim todo o ano – Fevereiro


Fevereiro chegou ao fim sem a tão esperada chuva que se tem feito esperar todo o inverno. Assim, este que seria um mês de alguma transição acabou por ser seco e “quente” com reflexos nas plantas, sem sempre positivos.
Fevereiro é o mês dos bolbos. Os cantos do jardim que pareciam despidos ganham vida, um jardim todo o ano tem que ser assim, ter espécies que emprestam beleza e cor em diferentes meses do ano.
A bergénia foi uma das primeiras a enfeitar o jardim com as suas belas flores cor-de-rosa. Só tenho uma planta e pequena, não a posso deixar esticar. É uma espécie que não dá qualquer trabalho. Apenas corto as folhas velhas e ela mantêm-se viva e bonita, florescendo todos os anos.
Outra espécie que floriu bastante foram os crócus. Tinha-os espalhados por vários locais, mas tenho-os agrupado todos num pequeno quadrado de terra. Os bolbos são muito pequenos e como ando sempre a plantar facilmente os arrancava sem dar conta. É bom saber com precisão onde é que eles estão. Mesmo esse pequeno espaço que lhes pertencia já tem alguns semprevivos pelo meio. Estou a tentar mudar todos os semprevivos para o solo, mas é uma tarefa gradual. Infelizmente os melros não são meus aliados: de cada vez que eu os planto, eles vêm arranca-los. São muito persistentes e mesmo tratando-se de semprevivos, alguns não aguentam.
Os primeiros narcisos floriram, mas a floração vai arrastar-se durante o mês de março. Os primeiros a florirem são espécies autóctones que já estão ambientadas no jardim. Tenho também uma variedade de flores pequenas, que floresce sempre primeiro. Ficam muito bonitos em grupo. As prímulas também floriram.
Os amores-perfeitos (pequenos) também começaram a florir. São plantas que nascem na horta e que transplanto para vários pontos do jardim. No jardim não nascem, porque eu não revolvo a terra. Está tudo tão cheio que desde que fiz o jardim, nunca mais o pude cavar. 
Fruto do inverno atípico os lírios começaram a florir mais cedo. Parece-me que a floração vai ser mais escalonada no tempo do que o habitual, o que é bom.
Despontaram muitas tulipas. Não sei se foi a falta de chuva, mas parecem-me muito fracas. Acho que vai ser um mau ano para estas flores. No ano passado foi excecional. 
Também os jacintos floriram. São bolbos que já estão na terra há alguns anos. A maioria das hastes florais são pequenas. São das flores que mais aprecio no mês de fevereiro.
A meu maior interesse pelas orquídeas está a dar algum resultado. Tenho quatro plantas floridas, entre elas uma orquídea sapatinho. É uma estreia absoluta!

Nos arbustos é de referir a Hebe e a Grevília. São dois exemplos de plantas com flores fantásticas, de floração precoce e que atraem para o jardim muitos polinizadores. 
No decurso do mês o jardim foi-se enchendo. O aumento de horas de luz fez crescer a verdura, que não tarda vai-se revelar em flores.
Na horta sobreviveram as couves galegas, bróculos, alho-francês, acelgas e ervas aromáticas, que mesmo sem desenvolverem vão aguentando.
Animado pelos dias amenos fiz sementeira de algumas espécies. Ao longo dos últimos anos fui acumulando sementes de dezenas de espécies, hortícolas e de jardim. Algumas compradas, outras dadas, parte delas recolhidas por mim no jardim. Não as tenho utilizado. As minhas necessidades, por exemplo no que toca a hortícolas é quantidades muito pequenas. Tenho tido alguma resistência a fazer as minhas próprias sementeiras, por exemplo de cebolo, alfaces, beterraba, etc. Com meia dúzia de euros compro as plantas, em cuvetes, prontas a pôr na terra. Semeei alfaces, beterrabas e coentros.  Semeei também algumas espécies de jardim: verbenas, sempriternas e, pela primeira vez, tremoceiro. Foi complicado manter a passarada longe da terra fresca. Vamos esperar pelo resultado.

Na preparação da terra aproveitei para arrancar as raízes de levístico (planta Knorr) para as mudar de lugar. Foi no verão anterior que fiz a sementeira. Não tinha qualquer conhecimento da planta e fiquei com vários exemplares pequenos quer em vasos, quer na horta. Foi uma surpresa quendo perderam toda a parte aérea. Aproveitei esta época de pausa para transplantar as raízes para um lugar mais adequado. Foi uma experiência que não sei se resultará.
Das árvores de fruto pouco posso dizer. À exceção dos citrinos, todas foram podadas em janeiro. Apesar de não ser muito recomendado, não esteve muito frio. A primeira a florir vai ser a nectarina, que já apresenta os gomos inchados. 

Fevereiro é o mês em que começa a floração da amendoeira. Apesar de não ter amendoeiras no meu espaço elas abundam nos campos em redor, tenho mesmo algumas na minha rua. É um espetáculo! É uma das épocas mais bonitas em parte da Terra-Quente Transmontana. É uma atração turística e atrevo-me a dizer que é a maior atração turística da região. É graças à amendoeira em flor, que se escola grande parte da produção de azeite, vinho, frutos-secos, fumeiro e outras iguarias que aqui são produzidas.

Ao longo do mês de fevereiro comecei a “mexer” com as suculentas. Alguns dos vasos que estavam na churrasqueira saíram para a rua. Em algumas noites já não coloquei a manta-térmica nas plantas que estavam no exterior. Enquanto as temperaturas se mantêm no positivo não há grandes problemas para elas. Não presenciei, até ao momento, nenhuma grande geada.

Tenho dado especial atenção aos Aeonium, principalmente Grennovias e aos Orostachys. Estes últimos têm uma forma original de resistirem ao inverno. Fecham-se, vivem das suas reservas, até que as condições lhe sejam de novo favoráveis. Ao longo do mês foram “acordando” e aproveitei para fazer algumas transplantações. Também há alguns Sedum que precisam de cuidado todos os anos. É um género bastante diversificado e se há espécies que não necessitam de qualquer cuidado, outras há que precisam de substrato “fresco” quase todos os anos, ou vão definhando. O Sedum oreganum, o Sedum spathulifolium e o Sedum pachyclados são exemplos em que o sucesso depende muito da atenção que se lhe dá. Novas plantações anuais pode ser a chave do sucesso. Mas também o Sedum dasyphyllum e o Sedum hemsleyanum carecem de bastante atenção.
Março está aí e o jardim vai explodir de cor.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Jardim todo o ano – Janeiro


Janeiro é também um mês de floração das orquídeas

Janeiro é, sem dúvida, o mês em que quer a horta quer o jardim estão mais despidos. São poucas as espécies que crescem e menos as que florescem nos meses mais frios, mas o inverno é atípico e passam-se coisas muito anormais para esta época do ano.
Aeonium arboreum Zwartkop - Tem estado protegido do frio e do sol
No que toca aos canteiros de jardim é de salientar o surgimento dos bolbos plantados no outono: frésias, aémonas, jacintos, gladíolos, tulipas, crocus, muscari, açucenas, etc. É um mês de mudança, quando outra vida desperta. Os poucos espaços do jardim que aparentavam estar vazios ganham vida e redobra-se a esperança de uma primavera farta de flores.
As últimas rosas, antes da poda das roseiras

Talvez fruto do inverno atípico, completamente seco e até algo ameno no que toca a temperaturas negativas, há espécies que continuam em flor, quando deviam ter desaparecido. Estou a falar de crisântemos, cravos-túnicos ou bocas-de-lobo. Tenho crisântemos completamente floridos! Nalguns forcei o seu final, cortando-os pelo colo para estimular a rebentação, mas outros tinham tantos botões que tive pena de os cortar e continuam floridos não imagino até quando.
Cravos-túnicos (tagetes)


Também os cravos-túnicos (tagetes) estiveram sempre e continuam em flor! As suas flores foram mudando, estão hoje mais amarelas e perderam quase toda a cor bordeaux, mas estão lá, enfeitando o jardim.
Sedum palmeri e Cotyledon orbiculata

Finalmente podei as roseiras. Aproveitei as últimas rosas para oferecer à cara metade, que fez anos em meados de janeiro. Já se notavam alguns rebentos e por isso tive mesmo que podar. Dei algumas estacas, a restante madeira foi cortada em pedaços de 15 a 20 cm e vão servir para acender o recuperador de calor no próximo inverno. Todas as folhas foram para a compostagem. 
Bocas-de-lobo

Foi ao podar as roseiras que o jardim se mostrou mais despido. Esta fase também é necessária. Sob as roseiras crescem muitas outras espécies. Quando as roseiras ficam sem folhas é uma oportunidade que têm de receberem mais luz, que este inverno não tem faltado. Luz há muita, mas falta a chuva. Reguei o jardim com alguma regularidade, mais ou menos uma vez por semana, durante todo o mês de janeiro. O solo estava seco e notava alguma dificuldade nos bolbos em irromperem da terra. A rega permitiu humedecer a terra e amaciá-la, tornando o processo mais fácil.
Sedum album 'athoum'

Este ano também estou a dar mais atenção às orquídeas. São flores de que é impossível não gostar. Janeiro também é mês de floração deste género. Os meus exemplares estão bastante fracos. Acho que ainda tenho muito que aprender. No entanto duas plantas já floriram e espero mais flores em breve.
A Epidendrum cinnabarinum não estava a aguentar as temperaturas exteriores. Tive que a recolher, mas ainda sofreu bastante nas folhas jovens. Não sei se vai florir.
Crassula ‘Springtime’

Na horta também aconteceram coisas invulgares. Andei a comer tomates, sem qualquer processo de conservação, durante todo o mês. Os que colhi depois das primeiras geadas foram deixados no exterior e aos poucos foram ganhando cor. Mesmo sem o mesmo sabor não foram desperdiçados. Ainda houve muitos que foram parar à compostagem e já estou à espera de no próximo verão ter uma nova invasão de tomateiros a surgirem por todos os lados.
Echeveria elegans

Plantei os alhos em janeiro! Estive à espera de chuva, que não chegou em dezembro, nem em janeiro. Farto de esperar, optei por plantar os alhos. Durante o mês fiz várias regas e acabaram por “nascer” bem. Nunca me tinha passado pela cabeça, ter que regar os alhos para eles brotarem! 
Colar-de-rubis (Othonna capensis)

Arranquei as últimas cenouras. Na terra restam os alhos franceses, couves galegas, tronchudas, brócolos e nabiças. Começam a desenvolver acelgas e a despontar rúcula. As plantas aromáticas também estiveram em pausa. Estão situadas numa zona de sombra e tiveram fraco crescimento.
Podei as fruteiras com exceção dos citrinos. O pessegueiro recuperou depois de dois anos em que esteve bastante doente com lepra. Tem boa madeira e promete muitas flores. Nem sempre muitas flores equivalem a muitos frutos, mas é um bom começo. Da pereira e na macieira não me posso queixar, 2021 foi um ano excecional, melhor é impossível.
Cotoneaster franchetii

Mantive as tangerinas na árvore até há poucos dias. Isto também porque me têm dado muitas e fui guardando as minhas para quando faltassem. Já estavam a cair ao chão e decidi apanhá-las todas (a árvore é pequena). Foi a única fruta que os pássaros não decidiram comer! Não devem gostar de sabor.
No que toca às suculentas, estão felizes e eu também. Ainda não houve geadas que causem danos elevados. As únicas baixas são naquelas que estão protegidas na churrasqueira! Mesmo sem rega, algumas melaram e as folhas apodreceram. 
Orostachys e Sedum forsterianum

Como estou a testar a utilização na manta térmica, fico sem saber se ela é realmente eficaz. O inverno tem sido anormalmente ameno e mesmo os Kalanchoe têm aguentado em exterior, sem qualquer proteção. Face às temperaturas amenas e dias soalheiros comecei a mudar o substrato de alguns vasos e floreiras feitos há vários anos. Mesmo com poucas exigências de solo as suculentas ficam muito tristes quando ficam mais de três anos com o mesmo substrato. Acho que ao segundo ano atingem o máximo, e depois de três o substrato deve ser mudado. Isto não se aplica aos Aeonium que podem ficar mais anos. Já alguns Sedum e Orostachys pode ser benéfico replantá-los todos os anos.
Os Sedum que perdem a parte aérea durante o inverno estão a regressar: Sedum vistoso, Sedum lineare variegatum, Sedum 'Lime Zinger', ou Sedum takesimense 'Atlantis'.
Crisântemos ainda floridos

As estrelas do tempo frio são os Aeonium (e Greenovia). Há algumas espécies que ganham tonalidades bonitas com o frio. Uma delas é o Sedum luteoviride e outra é o Sedum palmeri. Ao fim de alguns anos quase deixamos de reparar neles! É pena, porque são bastante bonitos.
Os Orostachys estão a despertar. Tal como disse anteriormente, acho positivo arrancá-los, limpá-los e plantá-los de novo. Já comecei a fazer isso, mas há Orostachys espalhados por todos os vasos e até já estão a chegar aos canteiros.
Tangerinas, apanhadas em janeiro

Esta é um pouco da história de janeiro, um mês de espera. Espera pela chuva que teima em não chegar, pelo fim da pandemia que tem registado infeções record na região, espera um clima normal, por uma vida normal seja lá o que isso é. Sempre resta a horta/jardim para largos momentos de evasão e felicidade.