Com o mês de outubro prestes a terminar, ganhei finalmente coragem para escrever algumas linhas sobre a horta/jardim dentro do tema “jardim todo o ano”.
O mais marcante deste mês foi, e é, sem dúvida, a mudança climática, com dias frios e muita chuva, em semanas inteiras. Isto, mais do que novidades, trouxe falta delas, ou por inatividade do jardineiro, ou por fraco desenvolvimento das plantas.
No jardim reinaram as dálias, com os crisântemos a fazerem-lhe concorrência no final do mês. As roseiras não podem ser esquecidas! Com uma manutenção cuidada ao nível do corte das flores mortas, elas mantêm-se em floração durante muitos meses. Curiosamente as rosas ganharam novas colorações e até alteração de formato, desde que o tempo fresco chegou. Às gazânias faltou o sol, embora tenham botões e folhas bonitas. O mesmo aconteceu às Margaridas-do-cabo e às Onze-horas.
Ao longo do mês a Anémona-do-Japão (Anemone hupehensis ou Eriocapitella hupehensis) foi a novidade. Embora seja só um pequeno pé, deitou mais de uma dúzia de flores. Mereceu muitas fotografias, não só pela novidade, mas também pela beleza das flores. Não houve um dia só que eu não a visitasse. Também a salva-ananás floriu durante este mês. Tal como a salva (normal) é um arbusto que pode atingir um metro de altura, com caules que vão progressivamente ficando lenhosos. Todos os anos a corto rente à terra, mas rebenta, com bastantes hastes e durante o mês de outubro enche-se de flores vermelhas. Dizem que atrai os beija-flores, mas não temos disso em Portugal! O nome salva-abacaxi/ananás vem-lhe do aroma que liberta. Já mastiguei algumas folhas, mas não senti nada de agradável (nem desagradável). Não sou louco, as folhas são comestíveis e têm vários ácidos usados no fabrico de óleos. Também são usadas na medicina tradicional de alguns países (ansiedade e hipertensão). As possibilidades de utilização desta planta são muitas: “A salva ananás é um excelente aromatizante para bolos e doçaria, refrescos, batidos, saladas, gelados e licores. Esta erva aromática também combina com carne de porco, pato e legumes. As flores da salva ananás são comestíveis e combinam em saladas.” O nome científico é Salvia elegans e já tenho ouvido chamar-lhe “salva de jardim”. Há outras salvas, bastante semelhantes (por exemplo Salvia microphylla) que são bastante usadas em jardinagem, nomeadamente em jardins públicos.
O mês de outubro também foi marcado pela aparição de muitas plantas bolbosas, que durante o verão estiveram camufladas: torrões-de-açucar, anêmonas, frésias, esparaxis, tritónias, babianas, ranúnculos, ixias, etc.
Outras plantas alegraram outubro com flores: Argyranthemum, Campanula portenschlagiana, Solanum rantonnetii, Tagetes, Petúnias (sim, resistentes ao frio), Scabiosa, sécias, Antirrhinum e mesmo alguns gerânios.
Nas árvores de fruto o mês foi de acalmia. As de folha caduca começam agora a perder a folha, mas muito lentamente. O limoeiro deu flores, a tangerineira perdeu alguns frutos, o diospireiro brilhou! Nunca o diospireiro conseguiu levar até ao fim tamanha quantidade de frutos! São tantos que tive medo que os frágeis ramos partissem. A árvore é jovem (cerca de 5 anos) e não chega a dois metros de altura. São diospiros de roer, típicos desta época. Temos comido frutos diariamente mas a maioria ainda está na árvore. Os pássaros cedo os descobriram e também têm aproveitado. Este será um ano memorável em cerejas, nectarinas, maçãs, peras, uvas e diospiros. Ainda é mais surpreendente pelo facto de eu não fazer qualquer tratamento fitossanitário! Este ano nem enxofrei as videiras!
Abati quase todos os pés de fisális. Crescem como “castanheiros” e já estavam a abafar o limoeiro, que até nem é das plantas mais fáceis de vencer. Continuo ter alguns frutos e muitas, muitas flores. Esta é uma espécie que nasce em quantidade em todo o espaço da horta, graças aos frutos verdes que vão parar à compostagem.
Na horta houve poucas novidades. A maioria das culturas entrou no outono como se de verão se tratasse. Tomateiros, beringelas, pimenteiros, pepineiros, acelgas, beterrabas, pimentas, alfaces, tudo parecia estar “na paz do Senhor”! De repente faltou-lhe o sol e apanharam vários encharcamentos, porque a chuva foi muita. É a época das nabiças e das couves de penca. Como a horta estava bonita, sobrou pouco espaço para estas duas culturas. Têm tido alguma dificuldade em se desenvolverem principalmente por causa dos pássaros e das lagartas que gostam das suas tenras folhas. Continuamos a colher tomates, pepinos, pimentos, caldo-verde, … só as alfaces têm faltado, por crescimento insuficiente.
Na horta, este ano, um dos destaques vai para as pimentas (por mim chamadas malaguetas). Semeei 5 variedades e comprei plantas de uma sexta. Tem sido um divertimento, colher, provar e tentar conservar a produção conseguida até agora (ainda estarão a meio da produção). Tenho provado as pimentas à dentada, para arrepio dos restantes membros da casa. Tenho comido os Jalapeno (pimenta carnuda e suculenta) na salada, tal como faço com o tomate, pepino e pimento. São ótimos e o ardor mínimo. Já fiz picles e várias misturas com base em azeite (de produção própria) e algumas plantas aromáticas. A base tem sido a experimentação e começo a ficar preocupado com o próprio entusiasmo. Contatei um amigo, que julguei apenas curioso na matéria, que já me mandou uma lista com 58 pimentas diferentes(!), para ou dizer as sementes que quero para sementeira no próximo ano! Coitadas das suculentas, será que é desta que vão passar para segundo plano?!
Nas aromáticas não há novidades. Algumas produções têm ido para a compostagem, porque, mesmo a secar e guardar, e a distribuir por colegas, amigos e vizinhos, a hortelã, hortelã-pimenta, cidreira, salva, salsa, alecrim e poejos têm sido em excesso.
Não têm sido fácil manter vivos os orégãos que consegui no verão. Tive receio de os plantar no chão e que eles se espalhassem descontroladamente, mas, nem no chão, nem em vaso, estão com grande cara.
O levístico deu grande quantidade de sementes. Espero que não tenha o mesmo comportamento da salsa, que nasce mais do que as ervas daninhas!
Cortei as alfazemas tarde e de forma muito radical. É possível que alguns pés não sobrevivam. Também estou com vontade de cortar o loureiro antes que se forme uma grande árvore. Tenho tentado obter outra planta com estacas, em vaso, mas não tive sucesso até agora.
Durante o mês de outubro foram as suculentas que me deram mais trabalho. Muitos vasos e floreiras já foram “montados” há alguns anos e precisaram de manutenção. Também tive um ataque sem precedentes de larvas. Contrariamente àquilo que é recomendado, uso substrato universal para as suculentas. Inicialmente juntava bastante areia, mas o meu stock já terminou faz tempo. Substratos ricos em matéria orgânica e muita humidade são fatores atrativos para os insetos que fazem as suas posturas nos vasos. O mais provável é tratar-se de gorgulho da videira (Otiorhynchus sulcatus). Já tenho encontrado os insetos adultos, mas o problema está nas larvas que se alimentam das raízes e caules das suculentas até causarem a sua morte. As Echeverias são as que mais sofrem. Comem o caule até ao olho, não havendo possibilidade de salvação, caso não seja detetado quando a planta ainda tem alguns cm de caule.
Podemos “sentir” se as plantas estão saudáveis agarrando-as por uma folha e puxando. Se a planta se liberta do solo e não têm raízes, possivelmente temos esse problema e, no mínimo temos que arrancar tudo e substituir o substrato. Curiosamente não tocam nas raízes das plantas de alguns Géneros botânicos! Nunca tive um problema tão grave como este ano.
Os verões são épocas críticas para os Aeonium. Não gostando nós de os ver ressequidos, temos tendência para os regar, matando-os. Por isso é com satisfação que vemos chegar o outono, pelo menos no que toca a Aeonium. Se sobreviveram, despertam e entram em atividade. O Starburst está quase extinto (com pena minha), mas tenho meia dúzia de espécies novas, que me estão a dar muito entusiasmo. Durante o mês de outubro puseram-se bonitos, não os largo nem um minuto!
Outubro também é o mês das Greenovia. Passei o verão preocupado e aos primeiros sinais de mudança apresso-me a fazer propagação, às vezes usando rosáceas menores do que um grão de milho. Planto Greenovia por todos os vasos e floreiras. Algumas não sobrevivem, mas, por norma elas agarram-se à vida e tornam-se bonitas plantas, tendo um crescimento proporcional ao espaço que lhe destinamos. Eu destino-lhe sempre pouco.
Nas mudanças de substrato sobram sempre plantas. Tenho distribuído mudas no meu local de trabalho, para não aumentar o número de vasos (ou de latas). Fico deprimido quando vejo ir algum rebento para a compostagem, mas dou comigo a catar as folhas de algumas espécies, simplesmente para que não caiam de deem novas plantas. Por exemplo a Graptoveria titubans, se não apanhamos a folhas e as pusermos na compostagem, em pouco tempo ficaremos com centenas e centenas de plantas dessa espécie.
Alguns dos meus “arranjos” passaram maus bocados durante o verão. Não pela seca, mas porque sempre que saí por alguns dias os encerrei na churrasqueira para que os melros não os desfizessem. Tenho tentado recuperá-los, esperando que o musgo cresça e as plantas ganhem de novo forma agradável.
Por falar em melros, eles continuam a rondar o casa, mas eu já não os deixo dormir no jardim. Alterei os meus hábitos e desde Agosto que me levanto antes do nascer do sol. Já têm feito estragos enquanto vou à casa de banho, ou tiro um café! Já não aprecio o nascer do sol, ou tomo o pequeno-almoço na rua. Já faz frio. Mas tenho conseguido minimizar os estragos, que aconteciam mais frequentemente ao raiar do dia.
O que nós não fazemos pelas nossas plantas!...
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