As beldroegas têm gerado tamanha agitação no Grupo que decidi postar mais algumas fotografias com a minha prática.
A questão colocada no Grupo era se a beldroega (Portulaca oleracea) era comestível. Disso não há a mínima dúvida, ela consumida pelos humanos há MILHARES de anos. Sendo originária do norte de África é natural que se tenha estendido pelo mediterrânio até porque muitos dos alimentos que conhecemos hoje, há milhares de anos ainda eram desconhecidos. Em Portugal ela sempre foi consumida, ao Brasil só chegaria mais tarde, mas na América do Sul existem outras Portulacas que também despertaram a atenção dos humanos.
Há um conjunto de alimentos que ao longo dos tempos ficaram "rotulados" como comida de pobre, muitas pessoas ainda ligam a esse preconceito. Penso que as beldroegas, os beldros, as espigas de milho, o fiolho, a borragem, amoras silvestres, as castanhas, as próprias sardinhas, são algumas das que me lembro. Alguns destes alimentos são hoje bastante cotados no mercado e utilizados com chefes reconhecidos. Mas o preconceito existe... "beldroegas é comida para porcos".
Sim, é verdade. Em cada aldeia havia centenas de porcos, cada família tinha pelo menos um, no tempo em que frigoríficos e arcas congelados eram uma miragem. Também se alimentavam os porcos com nabos, nabiças, couves, abóboras,... tudo alimentos fortemente consumidos pelos humanos.
Pontualmente comi beldroegas na salada, na infância. Para o agricultor a Portulaca oleracea é uma praga, difícil de erradicar. Sendo uma planta que gosta de solo com matéria orgânica, elas prosperam onde menos as desejamos: na horta, no batatal ou no meio do milho. Culturas das melhores terras e com rega.
O meu interesse pelas beldroegas ressurgiu há coisa de meia dúzia de anos, quando adquiri uma casa com um pequeno quintal. Desde aí que no curto espaço disponível para horta, as beldroegas também têm lugar, tal como a rúcula ou espinafre, que também de reproduzem indiscriminadamente.
Este ano é aquele em que tenho melhores exemplares. As cebolas foram-se abaixo muito cedo e eu passei a cuidar das beldroegas, com rega abundante.
Não consegui comprovar que existem duas variedades. O certo é que as pessoas fazem distinção pelo tamanho das folhas, chamando àquela que tem as folhas maiores, beldroega "mansa". Existe sim duas subespécies, mas o seu território é muito limitado.
Decidi juntar neste pequeno texto a Portulaca grandiflora, conhecida popularmente como Onze-horas (as flores só abrem às onze horas!). Esta sim teve de origem na América, tem um comportamento e aspeto semelhantes, mas é bem diferente no tamanho das suas flores (também as há dobradas). Esta também é comestível? Sim! Nunca provei mas há relatos de que nalgumas regiões são consumidas por humanos, quer as folhas, quer as sementes. O sabor parece não ser tão bom como o da beldroega.
Como podem ser consumidas? Pois em Portugal sempre foram consumidas quer na salada, quer na sopa, no Alentejo e em Trás-os-Montes. Não se se passou o mesmo noutras regiões. Tratando-se de um vegetal versátil, o céu é o limite e estou a vê-lo a ser utilizado em omeletes, arroz, quishes, esparregado, etc.
Nós só utilizamos as folhas e as pontas mais tenras, mas pode haver quem utilize os caules longos e suculentos. Ficamos a aguardar, nos comentários, se alguém lhe dá alguma utilidade.
Para finalizar, digo apenas que há quase um mês que como beldroegas todos os dias. Sempre em salada, junto com o que houver à mão, rúcula, alface, tomate, manjericão, porretas de cebola, etc. . Fizemos uma experiência de uma sopa alentejana, com queijo fresco e pão de forno a lenha. Ficou divinal (até para mim que raramente como sopa). Vamos em breve experimentar outra receita, parecida, mas que também leva tomate.
Depois contarei, se superou a primeira ou não.
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