sábado, 28 de outubro de 2023

Jardim todo o ano - Outubro

Com o mês de outubro prestes a terminar, ganhei finalmente coragem para escrever algumas linhas sobre a horta/jardim dentro do tema “jardim todo o ano”.
O mais marcante deste mês foi, e é, sem dúvida, a mudança climática, com dias frios e muita chuva, em semanas inteiras. Isto, mais do que novidades, trouxe falta delas, ou por inatividade do jardineiro, ou por fraco desenvolvimento das plantas.
No jardim reinaram as dálias, com os crisântemos a fazerem-lhe concorrência no final do mês. As roseiras não podem ser esquecidas! Com uma manutenção cuidada ao nível do corte das flores mortas, elas mantêm-se em floração durante muitos meses. Curiosamente as rosas ganharam novas colorações e até alteração de formato, desde que o tempo fresco chegou. Às gazânias faltou o sol, embora tenham botões e folhas bonitas. O mesmo aconteceu às Margaridas-do-cabo e às Onze-horas. 
Ao longo do mês a Anémona-do-Japão (Anemone hupehensis ou Eriocapitella hupehensis) foi a novidade. Embora seja só um pequeno pé, deitou mais de uma dúzia de flores. Mereceu muitas fotografias, não só pela novidade, mas também pela beleza das flores. Não houve um dia só que eu não a visitasse. Também a salva-ananás floriu durante este mês. Tal como a salva (normal) é um arbusto que pode atingir um metro de altura, com caules que vão progressivamente ficando lenhosos. Todos os anos a corto rente à terra, mas rebenta, com bastantes hastes e durante o mês de outubro enche-se de flores vermelhas. Dizem que atrai os beija-flores, mas não temos disso em Portugal! O nome salva-abacaxi/ananás vem-lhe do aroma que liberta. Já mastiguei algumas folhas, mas não senti nada de agradável (nem desagradável). Não sou louco, as folhas são comestíveis e têm vários ácidos usados no fabrico de óleos. Também são usadas na medicina tradicional de alguns países (ansiedade e hipertensão). As possibilidades de utilização desta planta são muitas: “A salva ananás é um excelente aromatizante para bolos e doçaria, refrescos, batidos, saladas, gelados e licores. Esta erva aromática também combina com carne de porco, pato e legumes. As flores da salva ananás são comestíveis e combinam em saladas.” O nome científico é Salvia elegans e já tenho ouvido chamar-lhe “salva de jardim”. Há outras salvas, bastante semelhantes (por exemplo Salvia microphylla) que são bastante usadas em jardinagem, nomeadamente em jardins públicos.
O mês de outubro também foi marcado pela aparição de muitas plantas bolbosas, que durante o verão estiveram camufladas: torrões-de-açucar, anêmonas, frésias, esparaxis, tritónias, babianas, ranúnculos, ixias, etc.
Outras plantas alegraram outubro com flores: Argyranthemum, Campanula portenschlagiana, Solanum rantonnetii, Tagetes, Petúnias (sim, resistentes ao frio), Scabiosa, sécias, Antirrhinum e mesmo alguns gerânios. 
Nas árvores de fruto o mês foi de acalmia. As de folha caduca começam agora a perder a folha, mas muito lentamente. O limoeiro deu flores, a tangerineira perdeu alguns frutos, o diospireiro brilhou! Nunca o diospireiro conseguiu levar até ao fim tamanha quantidade de frutos! São tantos que tive medo que os frágeis ramos partissem. A árvore é jovem (cerca de 5 anos) e não chega a dois metros de altura. São diospiros de roer, típicos desta época. Temos comido frutos diariamente mas a maioria ainda está na árvore. Os pássaros cedo os descobriram e também têm aproveitado. Este será um ano memorável em cerejas, nectarinas, maçãs, peras, uvas e diospiros. Ainda é mais surpreendente pelo facto de eu não fazer qualquer tratamento fitossanitário! Este ano nem enxofrei as videiras!
Abati quase todos os pés de fisális. Crescem como “castanheiros” e já estavam a abafar o limoeiro, que até nem é das plantas mais fáceis de vencer. Continuo ter alguns frutos e muitas, muitas flores. Esta é uma espécie que nasce em quantidade em todo o espaço da horta, graças aos frutos verdes que vão parar à compostagem.
Na horta houve poucas novidades. A maioria das culturas entrou no outono como se de verão se tratasse. Tomateiros, beringelas, pimenteiros, pepineiros, acelgas, beterrabas, pimentas, alfaces, tudo parecia estar “na paz do Senhor”! De repente faltou-lhe o sol e apanharam vários encharcamentos, porque a chuva foi muita. É a época das nabiças e das couves de penca. Como a horta estava bonita, sobrou pouco espaço para estas duas culturas. Têm tido alguma dificuldade em se desenvolverem principalmente por causa dos pássaros e das lagartas que gostam das suas tenras folhas. Continuamos a colher tomates, pepinos, pimentos, caldo-verde, … só as alfaces têm faltado, por crescimento insuficiente.
Na horta, este ano, um dos destaques vai para as pimentas (por mim chamadas malaguetas). Semeei 5 variedades e comprei plantas de uma sexta. Tem sido um divertimento, colher, provar e tentar conservar a produção conseguida até agora (ainda estarão a meio da produção). Tenho provado as pimentas à dentada, para arrepio dos restantes membros da casa. Tenho comido os Jalapeno (pimenta carnuda e suculenta) na salada, tal como faço com o tomate, pepino e pimento. São ótimos e o ardor mínimo. Já fiz picles e várias misturas com base em azeite (de produção própria) e algumas plantas aromáticas. A base tem sido a experimentação e começo a ficar preocupado com o próprio entusiasmo. Contatei um amigo, que julguei apenas curioso na matéria, que já me mandou uma lista com 58 pimentas diferentes(!), para ou dizer as sementes que quero para sementeira no próximo ano! Coitadas das suculentas, será que é desta que vão passar para segundo plano?!
Nas aromáticas não há novidades. Algumas produções têm ido para a compostagem, porque, mesmo a secar e guardar, e a distribuir por colegas, amigos e vizinhos, a hortelã, hortelã-pimenta, cidreira, salva, salsa, alecrim e poejos têm sido em excesso.
Não têm sido fácil manter vivos os orégãos que consegui no verão. Tive receio de os plantar no chão e que eles se espalhassem descontroladamente, mas, nem no chão, nem em vaso, estão com grande cara.
O levístico deu grande quantidade de sementes. Espero que não tenha o mesmo comportamento da salsa, que nasce mais do que as ervas daninhas!
Cortei as alfazemas tarde e de forma muito radical. É possível que alguns pés não sobrevivam. Também estou com vontade de cortar o loureiro antes que se forme uma grande árvore. Tenho tentado obter outra planta com estacas, em vaso, mas não tive sucesso até agora.
Durante o mês de outubro foram as suculentas que me deram mais trabalho. Muitos vasos e floreiras já foram “montados” há alguns anos e precisaram de manutenção. Também tive um ataque sem precedentes de larvas. Contrariamente àquilo que é recomendado, uso substrato universal para as suculentas. Inicialmente juntava bastante areia, mas o meu stock já terminou faz tempo. Substratos ricos em matéria orgânica e muita humidade são fatores atrativos para os insetos que fazem as suas posturas nos vasos. O mais provável é tratar-se de gorgulho da videira (Otiorhynchus sulcatus). Já tenho encontrado os insetos adultos, mas o problema está nas larvas que se alimentam das raízes e caules das suculentas até causarem a sua morte. As Echeverias são as que mais sofrem. Comem o caule até ao olho, não havendo possibilidade de salvação, caso não seja detetado quando a planta ainda tem alguns cm de caule.
Podemos “sentir” se as plantas estão saudáveis agarrando-as por uma folha e puxando. Se a planta se liberta do solo e não têm raízes, possivelmente temos esse problema e, no mínimo temos que arrancar tudo e substituir o substrato. Curiosamente não tocam nas raízes das plantas de alguns Géneros botânicos! Nunca tive um problema tão grave como este ano.
Os verões são épocas críticas para os Aeonium. Não gostando nós de os ver ressequidos, temos tendência para os regar, matando-os. Por isso é com satisfação que vemos chegar o outono, pelo menos no que toca a Aeonium. Se sobreviveram, despertam e entram em atividade. O Starburst está quase extinto (com pena minha), mas tenho meia dúzia de espécies novas, que me estão a dar muito entusiasmo. Durante o mês de outubro puseram-se bonitos, não os largo nem um minuto!
Outubro também é o mês das Greenovia. Passei o verão preocupado e aos primeiros sinais de mudança apresso-me a fazer propagação, às vezes usando rosáceas menores do que um grão de milho. Planto Greenovia por todos os vasos e floreiras. Algumas não sobrevivem, mas, por norma elas agarram-se à vida e tornam-se bonitas plantas, tendo um crescimento proporcional ao espaço que lhe destinamos. Eu destino-lhe sempre pouco.
Nas mudanças de substrato sobram sempre plantas. Tenho distribuído mudas no meu local de trabalho, para não aumentar o número de vasos (ou de latas). Fico deprimido quando vejo ir algum rebento para a compostagem, mas dou comigo a catar as folhas de algumas espécies, simplesmente para que não caiam de deem novas plantas. Por exemplo a Graptoveria titubans, se não apanhamos a folhas e as pusermos na compostagem, em pouco tempo ficaremos com centenas e centenas de plantas dessa espécie. 
Alguns dos meus “arranjos” passaram maus bocados durante o verão. Não pela seca, mas porque sempre que saí por alguns dias os encerrei na churrasqueira para que os melros não os desfizessem. Tenho tentado recuperá-los, esperando que o musgo cresça e as plantas ganhem de novo forma agradável.
Por falar em melros, eles continuam a rondar o casa, mas eu já não os deixo dormir no jardim. Alterei os meus hábitos e desde Agosto que me levanto antes do nascer do sol. Já têm feito estragos enquanto vou à casa de banho, ou tiro um café! Já não aprecio o nascer do sol, ou tomo o pequeno-almoço na rua. Já faz frio. Mas tenho conseguido minimizar os estragos, que aconteciam mais frequentemente ao raiar do dia. 
O que nós não fazemos pelas nossas plantas!...

sábado, 30 de setembro de 2023

Jardim todo o ano - Setembro

As chuvas que caíram no fim de agosto e no início de setembro vieram despertar o aprendiz de jardineiro, que passou o mês de agosto em compasso de espera, combatendo o calor, com a água possível.
Como já disse anteriormente, aqui o calendário é marcado pelas festas da Senhora da Assunção, uma das maiores romarias da região, que acontece a 15 de agosto. Normalmente coincide com a altura das primeiras chuvas que precipitam a lavra dos campos, a sementeira das nabiças, a plantação das couves tronchudas, etc. Não choveu na Senhora da Assunção, mas choveu no final do mês e o efeito foi o mesmo, mudanças na hortas, nos campos e nas plantas do jardim.
Os tomateiros que comprei, coração de boi, ficaram atrofiados. Valeu-me os tomateiros que nasceram em quantidade, de forma espontânea, por toda a horta. Fruto de cruzamentos são pequenos, mas em quantidade, o que fez com que este fruto não tenha faltado. Também não têm faltado pimentos, grandes e bonitos. A trovoada tombou alguns pés, porque são muito altos e têm muito peso dos frutos. Courgettes não vi nenhum, de 3 pés que plantei, mas em contrapartida os pepinos são em quantidade. Cada vez apreciamos mais os pepinos. Dos repolhos já poucos restam. Algumas couves roxas, de que gostamos na salada. Estão quase a terminar as cenouras. Houve uma boa produção.
Este ano inovei nas malaguetas/pimentas. Já vos contei da “vergonha” que passei num Grupo sobre pimentas, quando cheguei à conclusão que não sabia nada da “poda”. Comprei alguns pés de malagueta e semeei mais 5 qualidades de pimentas que tenho espalhadas por tudo quanto é sítio, desde a horta, aos vasos de suculentas, passando pela churrasqueira. Já comecei a colheita e já fiz um frasco de molho “à minha moda”. No dia seguinte o azeite já picava! Noutra altura darei notícia da evolução das pimentas.
Já plantei as couves de penca. Poucas, porque couves não é coisa que me agrade no prato. Sou mais amante das leguminosas, mas há sempre grandes couves galegas que chegam a vários metros de altura. Uma feijoada à transmontana tem que ter couve galega.

As aromáticas estão muito frescas e crescidas. No jardim serrei um alecrim grande porque o canteiro já parecia uma floresta. Também serrei parte do maçaroco da Madeira. Estava gigantesco e nunca me deu flores. Cortei as alfazemas.
Para não deixar estragar, cortámos o levístico, coentros, poejos, manjericão e várias variedades de tomilho para secar e triturar (tarefa da esposa). Não necessitamos, porque temos quase tudo em fresco, mesmo ao lado da cozinha, mas é para não deixar estragar.
Plantei orégãos, que arranquei num relvado na cidade de Orense. 🙂
Na horta há ainda acelgas, rúcula, alfaces, alho-francês, espinafres, muitas beterrabas, fisális,…
Também nasceram de forma espontânea alguns pés de melancia. Os frutos estão grandes, mas temos dificuldade em saber quando estão prontos para colher.
No que toca às suculentas, são já bem visíveis a mudanças. Embora atribuamos muitas vezes estas mudanças às alterações de temperatura, ou de humidade, as plantas são muito mais sensíveis às mudanças da duração do dia. O fotoperíodo (tempo de luz) é o calendário das plantas. Tenho-me levantado todos os dias antes do sol nascer (para guardar as suculentas dos melros) e noto alterações de dia para dia. Os dias são muito mais curtos e o sol “descreve um arco” cada vez mais baixo.
Muitas suculentas sofreram efeitos do granizo. A destruição não foi grande, mas é notória, principalmente nas Echeveria. Os Aeonium despertaram e em breve vão voltar a ser estrelas.
Alguns bolbos também já despertaram! Os primeiros foram os muscari mas agora já noto rebentos de açucena, frésias, tritónias, anémonas e até beijinhos-de-mãe.
Quanto a flores, não há muita quantidade, mas há alguma variedade. Estão em força as sécias; ainda reinam as onze-horas; há gazânias em flor, mas tenho-as cortado para que renovem. As roseiras nunca param de dar flores. Faço poda constante desde a primeira floração, o que provoca rebentamentos e novas florações. Estão carregadas de botões. As dálias também estão em plena floração.
Floriu uma planta nova no jardim. Trata-se de uma anémona-do-japão. A planta já me foi dada há alguns anos e pensei que tinha morrido. Só me apercebi dela quando vi uma haste floral que cresceu até perto de 80 cm de altura.
Nas fruteiras, o diospireiro tem perdido muitos frutos, mas ainda tem uma quantidade aceitável. Espero que os mantenha. Estão boas para apanhar as maçãs Golden. A macieira tinha demasiadas e não cresceram muito, mas são extremamente doces e sumarentas. Até agora só temos apanhado as que caem ao chão. Os canários também gostam de maçãs (e de couves!). Gasto todas as manhãs 3 maçãs, colocando um “gomo” em cada gaiola.
Como próximas tarefas: semear algumas nabiças. Quer os grelos, quer os espigos são importantes na dieta a que estamos habituados. Quando o frio vier, uma alheira assada nas brasas, num prato de batatas cozidas e grelos é um dos nossos pratos mais tradicionais.
Também há uma tarefa que nunca acaba, ... renovar o substrato nalguns vasos das suculentas. Todos os anos há ataques de larvas, que comem as raízes das suculentas. Tenho algumas floreiras com esse problema.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Scabiosa

A Scabiosa também merece atenção, pelo menos um dia no ano. Está em flor e acho-lhe muita graça. Gosto de fotografar as flores antes de abrirem, têm uma forma muito geométrica. Só tenho esta cor, mas imagino como devem ser bonitas as azuis, roxas ou púrpura...

Tenho a mesma planta há vários anos e nunca nasceu nenhuma outra! Mas produz muita semente! Limpo a planta e ela rebenta de novo, mas tenho medo que se "apague" e fique sem nenhuma.
A Scabiosa mais conhecida é a Scabiosa Stellata, mas eu não tenho nem nunca vi ao vivo. Também não se pode ter tudo.
Agradeço à D. Fernanda, de Vila do Conde, que me arranjou esta espécie.

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Echinacea purpurea

A equinácea é uma planta medicinal, mas independentemente disso é uma planta de flores muito bonitas. 

Tenho apenas uma cor, mas há várias, entre as quais vermelhas.

Já me têm pedido as plantas para fins medicinais, mas eu apenas as uso como plantas de jardim ou como flores secas (têm um bonito cone). Estão nesta altura em flor.

Encontrei-as por acaso numa visita ao Lidl, há alguns anos atrás. No inverno desaparece totalmente.

domingo, 16 de julho de 2023

Coreópsis

Não tenho visto Coreópsis no Grupo Aprendiz de Jardineiro! Estas plantas entram no grupo daquelas que são autossuficientes, são perenes e são bonitas. 

Necessitam de pouquíssimos cuidados e dão flores durante muito tempo. É uma das espécies que só conheci quando chegou, misturada com mais umas dezenas, numa enorme caixa de cartão. Logo nesse ano floriram e já completam 3 anos comigo. Faço a reprodução por estacas, mesmo sem raiz, quando o tempo está fresco. 

Podem ter alguma dificuldade em prender, mas, por norma, resulta. Tratando-se de uma Asteracea seria de esperar que se reproduzisse facilmente por sementes, mas aqui, não acontece. Não admira. A terra do meu jardim há 6 anos que não é cavada (não há hipótese). Por isso muitas plantas não se reproduzem bem por sementes de forma autónoma.

Como podem ver pelas fotografias há plantas de flores simples e plantas de flores dobradas. Só tenho visto amarelos, mas há com uma auréola central vermelha, ou completamente vermelha (se alguém tem, agradeço que mostre).

Quem tem uma área razoável de jardim, é uma das espécies que pode procurar. Penso que não se irão arrepender.

Sedeveria Green Rose

 Hoje recordo-vos da Sedeveria Green Rose. É uma planta muito pouco conhecido. Havia três ou quatro membros do Grupo Suculentas-Portugal que a tinham e eu acabei por ganhar uma muda. 

Tem o formato que eu gosto e no que toca à cor varia muito. Com o frio fica rose, quase roxa, mas no verão fica verde até com tendência para o amarelo. É uma planta que giro esta espécie com alguma cautela. 

Ela por vezes perde-se na floração. Já tenho enviado algumas mudas (poucas), mas nunca recebi feedback.

sábado, 15 de julho de 2023

O Aeonium que só queria florir

Tenho aqui estas fotografias guardadas para vos contar uma "história", já há bastante tempo, mas como ela não se escreve sozinha, lá terá que ser. Se tivesse que escrever um título ele seria "O Aeonium que só queria florir".
Todos sabem dos perigos que tem a floração dos Aeonium. Quando florescem todas as rosáceas, é complicado, quase sempre significa um adeus definitivo.
Tratou-se de um Aeonium Mardi Gras, o primeiro que tive, comprado à Felisberta Marques e criado com muito carinho. Depois de alguns anos comigo notei que as rosáceas estavam a dar origem a folhas mais curtas e compactas. A desconfiança chegou a certeza pouco tempo depois, ambas as rosáceas preparavam-se para florir.
Tenho ouvido falar em soluções de sucesso, mas são casos esporádicos, tão pontuais que não sabemos se resultam do saber, se da sorte, se da providência divina. Estou a falar da reprodução por folha e da decapitação. A reprodução por folha é possível com Aeonium, eu próprio já tive casos de sucesso, mas em espécies de folhas mais suculentas e/ou lenhosas. Coloquei esta opção imediatamente de lado. Restou-me a decapitação.
Como tenho alguma formação em Ciências Naturais, decidi misturar a necessidade com ou pouco de método experimental. Foram decapitadas as duas rosáceas, mas uma deixando algumas folhas e outra sem folhas (ambas estavam na mesma planta). Uma das rosáceas cortadas foi plantada num vaso, outra foi decapitada de novo ficando a posterior, com algumas folhas, e a superior com o centro da rosácea. A parte posterior foi plantada num vaso, a extremidade foi colocada em copo com água. Fiquei, assim, com 5 variações do mesmo Aeonium. Seria muito mau se nenhuma tivesse sucesso!
1 - Planta original, decapitada, sem folhas;
2 - Planta original, decapitada, com folhas;
3 - Rosácea decapitada, plantada num vaso;
4 - Rosácea decapitada, em água;
5 - Troço do caule, com folhas, plantado em vaso.
Ainda está a ler? 😁 Gosta muito de suculentas ou já teria posto um like e passado à frente.
Só restava esperar... Nenhuma das amostras morreu! Todas continuaram a crescer, com exceção de uma (qual?). O meu entusiasmo crescia com elas.
Adianto já... amostra que nunca cresceu foi o tronco da decapitação que foi deixado sem folhas. Mesmo agora não está morto, mas não estou à espera de alterações com o calor que faz.
Acho que está a torcer pelo sucesso da amostra 2, caule original que foi deixado com folhas. Começou a ganhar um bom conjunto de rebentos e eu iria ter mais de meia dúzia de rosetas. À medida que cresciam o meu entusiasmo foi diminuindo. Estava claro que eram flores. Deixei a floração seguir o seu rumo, não havia mais nada a fazer. Quando a floração terminou cortei as flores, nova decapitação, mas novas flores surgiram. Fiz uma decapitação mais radical, por baixo das folhas e a planta deixou de florir, mas não morreu, nem lançou novas folhas.
Ainda me restavam mais três hipóteses de sucesso. Tratei estas amostras com mais cuidado, não as expondo demasiado ao sol. Todas continuavam a crescer, embora algo estioladas, mas a esperança mantinha-se; a falta de sol poderia inibir a floração.
Com o tempo fui perdendo a esperança. Como habitualmente faço, comecei a aproveitar os vasos para plantar outras espécies. Quando uma plantação me oferece poucas hipóteses de sucesso, aproveito para plantar outras amostras em redor. Não é falta de valorização, é uma necessidade de quem luta constantemente com falta de espaço.
Abreviando. Ambas as amostras plantadas em vaso (pedaço de caule e rosácea do Aeonium) floriram. Como estavam à sombra, a floração foi fraca.
A 5.ª e última amostra encontrava-se em água. Não morreu, mas num milagre que só a natureza consegue... floriu também!
A natureza seguiu o seu caminho. Eu repito muitas vezes, "as plantas não sabem que nós existimos". Não podemos pensar a sua vida colocando-nos no centro. São elas que estão no centro e esta só queria florir. É a sua forma de dar continuidade à espécie.
Não fiquei triste. Confirmei o que esperava, apesar de desejar o contrário. A mesma planta já me tilha dado muitas mudas, algumas das quais estão espalhadas por amigos pelo país.
Faltou testar a utilização das sementes. Sei que é possível, mas é um processo muito demorado, mesmo para quem é paciente.
Paciente também é quem leu esta "história" até ao fim. Se este foi o seu caso e se lhe apetecer escrever um comentário, acrescente "eu li" ao seu comentário. Revivi meses do meu Aeonium ao escrever estas linhas. Já valeu a pena.
Nota: O Aeunium ainda está no vaso, sem folhas, mas está vivo. Será que em setembro vai rebentar?!!!