domingo, 7 de setembro de 2025

Com mais de 15 dias de atraso em relação ao ano passado, a beladona está no apogeu da sua floração, bem a tempo de enviar os meninos, e não só, para a escola e de coincidir, esperamos que sim, com as primeiras chuvas em Trás-os-Montes.
Esta planta é sobejamente conhecida e existe em muitos jardins privados e públicos, e nos Açores é muito abundante pelos campos, principalmente na Terceira.
É duma beleza exótica, pelas suas cores e pelo facto de se elevar do solo muito rapidamente, a mais de meio metro, sem apresentar qualquer folha.
Toda a planta é tóxica, e a maior concentração das toxinas estão no bolbo e nas sementes. Atenção que também outros Amaryllis (hippeastrum) são igualmente tóxicas. No entanto, a fama de beladona como veneno capaz de matar humanos facilmente não é desta planta, mas sim de outra beladona bem mais pequena e dissimulada. Trata-se da beladona (Atropa belladonna), que é uma solanaceae e que produz bagas de cor negra, brilhantes, muito semelhantes às que os brasileiros conhecem por maria-pretinha. Daí a amarílis beladona também ser conhecida pelo nome de falsa-beladona.
A beladona (amarílis) tem muitos nomes em Portugal continental, dependendo da região. Acontece que esses nomes não são exclusivos dela, o que gera bastante confusão. Para açucenas eu uso a seguinte definição: Planta herbácea (Lilium candidum) da família das liliáceas, de flores brancas e perfumadas, de que se extrai óleo utilizado na medicina e na perfumaria. O mesmo para bordão-de-S.José. Para beladona eu uso a seguinte definição: Planta solanácea medicinal e venenosa (será então outra planta). Então, para a nossa beladona de hoje só resta o nome amarílis beladona (sim, com dois nomes, escritos em bom português). Despedidas de verão, soa bem é assim como "meninas-para-a-escola" utilizada nos Açores. Mesmo sendo uma planta abundante na borda dos caminhos nalgumas ilhas, ela não é autóctone dos Açores, mas sim exótica.
A amarílis beladona é fácil de reproduzir por bolbos. Foi assim que ela veio para o meu jardim. Tenho duas cores ligeiramente diferentes e com floração desfasada. Estas estão a terminar a floração e a outra "variedade", que apresenta alguns riscos claros nas pétalas rosadas, estão a começar a floração. Eu tenho feito a reprodução da amarílis beladona por sementes. Depois das pétalas caírem crescem capsulas carnosas, do tamanho de uma ervilha, de cor clara, quase transparentes. Espalho esses frutos sobre o solo e eles germinam muito facilmente. Primeiro emitem uma radícula em direção ao solo, prendendo-se e buscando alimentação. Depois emitem um caulículo mantendo o fruto a sua aparência carnuda. Por vezes os frutos ficam rosados, parecendo pequenas pérolas. Mais uma vez, atenção que são venenosos.

sábado, 9 de agosto de 2025

Um ano de pimentas

Comi há poucos dias a primeira pimenta deste ano, uma Pequin, a que a maioria das pessoas chama gindungo.  Isto sem contar com os pimentos Padrón, que já estão bons há bastante tempo.
Quem está atento, já sabe que as pimentas, do género Capsicum, são plantas perenes, embora cultivadas como anuais. Então, para começar as minhas reportagens sobre as pimentas tenho que recuar ao inverno passado, fazendo a ponte para este ano.
Das muitas variedades de pimentas que tive o ano passado, um pouco mais de duas dezenas de plantas estavam em vasos, o que me permitiu guardá-las, com alguma proteção.
Em novembro ainda eu tinha as plantas em plena produção. Em dezembro estavam no terreno e só colhi os últimos frutos no final desse mês. 
Em janeiro as plantas em vaso foram colocadas na churrasqueira, um espaço fechado, embora não aquecido. Apanhei todos os frutos das que ficaram ao ar livre, mas não das que estavam na churrasqueira. Ainda tentei proteger algumas do exterior com manta térmica, mas não foi suficiente, a geada acabou por queimá-las.
A meio de janeiro fiz a última conserva, uma massa de pimentas, muito boa, que ainda hoje ando a comer. Também dei alguns frascos (que sorte teve quem os recebeu!).
A meio de janeiro, andava eu a preparar as coisas para fazer a sementeira das pimentas e ainda colhia alguns frutos das plantas na churrasqueira! Em março tinha alguns frutos de Rocoto, Aji Lemon Drop e Mustard Nagabrain. Ao ar livre a Pequin era única que continuava a dar frutos, e assim continuou até hoje.
Das plantas protegidas nem todas sobreviveram e apenas uma manteve as folhas todo o tempo. Tirei-lhe o último fruto em maio! Não tenho a certeza na sua identificação.  Entre as mais resistentes estão as 'Bishop's crown', Brazilian Starfish, Pequin e alguns Rocotos. Curiosamente a delicada Capsicum Praetermissum foi uma das que sobreviveu, bem como a Karneval yellow. Ao todo, sobreviveram 15 plantas nos vasos.
Sem qualquer proteção, plantadas no terreno sobreviveram as Pequin e 'Bishop's crown'.
Em abril germinaram as primeiras sementes. Usei tabuleiros de germinação, com iluminação artificial Led, mas sem aquecimento. Diria que a germinação correu bem! Sem experiência, coloquei em cada cuvette 6 a 8 sementes de cada variedade sendo que, da maioria, germinaram todas. A exceção foi para os Rocotos
Quando as pequenas plantas já tinham algumas folhas, retirei-lhe a luz artificial e esperei que ganhassem alguma robustez para as transplantar para copos individuais. Esperei, esperei e desesperei. As plantas não cresciam, antes pelo contrário. Deduzi que havia demasiadas plantas, para os pequenos espaços e retirei algumas, mas nada de se desenvolverem. 
Em maio os melros entraram na churrasqueira e fizeram algum estrago, nas pimentas e nas suculentas mais delicadas e quase estive para desistir.
Entretanto, em março fiz algumas sementeiras de plantas aromáticas, na escola, num projeto que desenvolvi com alunos. As pimentas (Bolivian rainbow) não só germinaram bem, como cresceram que foi uma maravilha. Esse sucesso levou-me a insistir e comecei a regar as minhas pimentas de casa com adubo líquido. Deu-se um milagre!
Perdi muito tempo, entre um mês e um mês e meio, em que as plantas não desenvolveram, mas o entusiasmo voltou.
Nesta aventura da descoberta das pimentas não estou sozinho. O meu guru é o Jorge Pinto, grande entusiasta e conhecedor, a quem recorro e a quem devo quase tudo do que já descobri. Com o seu conhecimento e tecnologia já tinha as plantas grandes, em vasos individuais, prontas a colocar no local definitivo. Em junho fiz-lhe uma visita (a 25 km daqui) e não vim de mãos a abanar! Por mais que eu diga - Não tenho espaço - a resposta é sempre - Esta tem que ter!
Foi também nessa visita que fiquei a conhecer o “caldinho”. À hora de almoço levou-me a um bar onde virámos alguns copos… de caldinho… acompanhados com cerveja! Estão a ver como será o caldinho? Picante, é claro.
Plantei as plantas mais desenvolvidas em vasos definitivos (a 14 de junho) e fiquei com as mais pequenas para ir distribuindo pela horta à medida que algum espaço fosse vagando. Foi isso que aconteceu com o canteiro das cebolas.
Neste momento posso dividir as minhas pimentas em 4 grupos: 
O primeiro grupo é o das plantas que transitaram do ano passado. Iniciaram a floração mais cedo e algumas já têm frutos praticamente maduros. Nem todas rebentaram com o mesmo vigor. Mesmo entre os Rocotos, alguns já têm frutos a ficarem vermelhos, outros ainda estão a lançar as primeiras flores. Os Rocotos plantas são grandes. Este grupo de plantas está praticamente todo em vasos e são variedades que já tive no verão passado.
O segundo grupo é o das plantas oriundas no amigo Jorge. Estão com flores e algumas já cheias de frutos. Tem havido flores que caiem, julgo eu devido ao excesso de calor que se tem sentido. Aqui estão as novidades, com variedades muito interessantes. Estão em vasos.
O terceiro grupo é constituído por plantas germinadas por mim, que estão no solo, da horta, já com flores e algumas com frutos. Foram plantadas em julho, conforme a disponibilidade do espaço. São variedades que já tive o ano passado, produziram frutos, dos quais retirei sementes. Das variedades que tive o ano passado, à volta de uma dezena, não deram qualquer fruto!
O quarto grupo são plantas ainda pequenas, em copos, que têm um destino incerto. Neste momento, a retirar da horta, só alho francês, o que significa que o espaço está praticamente todo preenchido. A patroa já me lembrou das nabiças, e das couves de penca, mas não me quer contrariar com as pimentas.


quarta-feira, 23 de julho de 2025

Portulacas

As beldroegas têm gerado tamanha agitação no Grupo que decidi postar mais algumas fotografias com a minha prática. 
A questão colocada no Grupo era se a beldroega (Portulaca oleracea) era comestível. Disso não há a mínima dúvida, ela consumida pelos humanos há MILHARES de anos. Sendo originária do norte de África é natural que se tenha estendido pelo mediterrânio até porque muitos dos alimentos que conhecemos hoje, há milhares de anos ainda eram desconhecidos. Em Portugal ela sempre foi consumida, ao Brasil só chegaria mais tarde, mas na América do Sul existem outras Portulacas que também despertaram a atenção dos humanos.
Há um conjunto de alimentos que ao longo dos tempos ficaram "rotulados" como comida de pobre, muitas pessoas ainda ligam a esse preconceito. Penso que as beldroegas, os beldros, as espigas de milho, o fiolho, a borragem, amoras silvestres, as castanhas, as próprias sardinhas, são algumas das que me lembro. Alguns destes alimentos são hoje bastante cotados no mercado e utilizados com chefes reconhecidos. Mas o preconceito existe... "beldroegas é comida para porcos". 
Sim, é verdade. Em cada aldeia havia centenas de porcos, cada família tinha pelo menos um, no tempo em que frigoríficos e arcas congelados eram uma miragem. Também se alimentavam os porcos com nabos, nabiças, couves, abóboras,... tudo alimentos fortemente consumidos pelos humanos.
Pontualmente comi beldroegas na salada, na infância. Para o agricultor a Portulaca oleracea é uma praga, difícil de erradicar. Sendo uma planta que gosta de solo com matéria orgânica, elas prosperam onde menos as desejamos: na horta, no batatal ou no meio do milho. Culturas das melhores terras e com rega.
O meu interesse pelas beldroegas ressurgiu há coisa de meia dúzia de anos, quando adquiri uma casa com um pequeno quintal. Desde aí que no curto espaço disponível para horta, as beldroegas também têm lugar, tal como a rúcula ou espinafre, que também de reproduzem indiscriminadamente.
Este ano é aquele em que tenho melhores exemplares. As cebolas foram-se abaixo muito cedo e eu passei a cuidar das beldroegas, com rega abundante.
Não consegui comprovar que existem duas variedades. O certo é que as pessoas fazem distinção pelo tamanho das folhas, chamando àquela que tem as folhas maiores, beldroega "mansa". Existe sim duas subespécies, mas o seu território é muito limitado.
Decidi juntar neste pequeno texto a Portulaca grandiflora, conhecida popularmente como Onze-horas (as flores só abrem às onze horas!). Esta sim teve de origem na América, tem um comportamento e aspeto semelhantes, mas é bem diferente no tamanho das suas flores (também as há dobradas).  Esta também é comestível? Sim! Nunca provei mas há relatos de que nalgumas regiões são consumidas por humanos, quer as folhas, quer as sementes. O sabor parece não ser tão bom como o da beldroega.
Como podem ser consumidas? Pois em Portugal sempre foram consumidas quer na salada, quer na sopa, no Alentejo e em Trás-os-Montes. Não se se passou o mesmo noutras regiões. Tratando-se de um vegetal versátil, o céu é o limite e estou a vê-lo a ser utilizado em omeletes, arroz, quishes, esparregado, etc.
Nós só utilizamos as folhas e as pontas mais tenras, mas pode haver quem utilize os caules longos e suculentos. Ficamos a aguardar, nos comentários,  se alguém lhe dá alguma utilidade.
Para finalizar, digo apenas que há quase um mês que como beldroegas todos os dias. Sempre em salada, junto com o que houver à mão, rúcula, alface, tomate, manjericão, porretas de cebola, etc. . Fizemos uma experiência de uma sopa alentejana, com queijo fresco e pão de forno a lenha. Ficou divinal (até para mim que raramente como sopa). Vamos em breve experimentar outra receita, parecida, mas que também leva tomate.
 Depois contarei, se superou a primeira ou não.